Sete perguntas para DANIEL GÓMEZ GAVIRIA
Por
Eduardo Salgado
Para o chefe de
competitividade do Fórum Econômico Mundial, os novos prefeitos têm um papel
crucial no aumento da produtividade no Brasil.
Doutor
em economia pela Universidade de Chicago, o colombiano Daniel Gómez Gaviria é
responsável pela área de competitividade do Fórum Econômico Mundial,
instituição que, além de organizar encontros em Davos, produz respeitados
estudos e rankings. Gómez Gaviria esteve recentemente no Brasil a convite da
Comunitas, ONG criada pela ex-primeira dama Ruth Cardoso, para falar de
planejamento de longo prazo nas cidades, um dos focos do Fórum Econômico
Mundial.
1. Qual
é o principal conselho que o senhor daria aos prefeitos brasileiros que vão
assumir em 2017?
O
objetivo deve ser aumentar a competitividade. O primeiro passo é fazer uma
análise. Usando os rankings disponíveis, qual é a posição da cidade? Quais são
os pontos fortes e os fracos? Uma vez feito isso, é preciso definir as prioridades
e ter um plano para garantir a execução.
2. Cidades
conseguem ganhar competitividade?
É
preciso ter claro o significado de competitividade. Para nós, quer dizer um
grupo de fatores e condições que aumentam a produtividade da economia. Isso
inclui desde a elevação da qualidade das instituições até o reforço da
infraestrutura.
3. Esses
temas não são, em muitos casos, da alçada do governo estadual ou do federal?
Em
alguns casos, é verdade que os prefeitos têm pouca ou nenhuma margem de
manobra. Um exemplo disso é a política macroeconômica. Mas em vários outros
temas eles podem fazer muito. Falo do combate à corrupção, da diminuição da
burocracia, da melhoria da infraestrutura, do aumento da qualidade dos serviços
de saúde e educação... Até mesmo na área do trabalho os prefeitos podem ajudar.
4. Mas
as mudanças nas leis trabalhistas não dependem de votação do Congresso?
É
verdade. Ainda assim, as prefeituras podem montar um sistema para que as
empresas em busca de mão de obra encontrem os profissionais certos.
5. Qual
é a área em que as cidades podem ter um papel relevante?
Sem
dúvida é na área de sofisticação do ambiente de negócios e de estímulo à
inovação. Esses fatores dependem de um ecossistema e da cooperação entre
instituições. Um bom exemplo é o que acontece em Medellin, na Colômbia. Lá foi
criado um comitê entre prefeitura, universidade e empresas. Um dos resultados
foi a criação de uma rede de apoio a startups. A tecnologia também tem um papel
importante como ferramenta para o poder público.
6. O
senhor se refere ao uso de aplicativos para aumentar a qualidade dos serviços
públicos?
Exatamente.
Quando a população usa apps que medem, por exemplo, o tempo de espera em postos
de saúde, isso ajuda o governo a identificar gargalos. Estamos até mudando um
pouco a metodologia do nosso ranking de competitividade. Vamos passar a medir
melhor o impacto da tecnologia, inclusive no serviço público. Trata-se de um
esforço para mensurar as transformações da atual revolução digital.
7. De
que outras maneiras as cidades podem tirar proveito da tecnologia?
Os
prefeitos e os funcionários públicos não precisam mais ser a única fonte de
soluções. Hoje é possível uma prefeitura informar o tipo de problema que quer
resolver e pedir a pessoas e empresas que apresentem soluções. Tudo online.
Publicada
na Revista Exame, Edição 1128, nº 24 de 21/12/2016.