sexta-feira, 17 de junho de 2011

ABSENTEÍSMO É SÓ A PONTA DO ICEBERG

Por Ivan Postigo

Absenteísmo é o termo usado para designar a ausência do trabalhador na empresa. 

Uma questão grave e complexa para as organizações, pois envolve remunerações, perdas de produção, gastos extras, que provocam prejuízos.
Muitos estudos e pesquisas apresentam as causas das ausências relacionadas à capacidade física e psicológica das pessoas, e à falta de motivação para o trabalho, influenciada por fatores internos e externos à empresa.

A motivação para a assiduidade também é afetada por procedimentos organizacionais, como recompensas e punições.
A declaração de missão de muitas empresas traz suas crenças e valores, pois as reconhecem em suas culturas como aspectos de integração, participação e comprometimento.

A questão, tratada de forma direta, nos leva a perguntar: por que uma pessoa integrada, participativa e comprometida se ausentaria do trabalho?
Esse assunto gera acalorados debates e um frio na espinha dos gestores de recursos humanos, que procuram apoio de médicos, psicólogos, assistentes sociais, mas muitas vezes mantêm-se afastados dos gestores das áreas onde a incidência é significativa.

Vamos a alguns casos práticos, expostos para reflexão.

Silva é um supervisor intransigente e de difícil trato. Os funcionários o evitam, preferiam não ter que trabalhar com ele. Pelos anos de casa Silva conta com apoio do gerente e respeito da direção.
Verdade seja dita, seu chefe imediato minimiza os contatos também, conversando assuntos estritamente necessários, e usa como ponte a habilidade de sua assistente Neusa, quando deste não quer se aproximar. 

É justamente em sua área que o absenteísmo apresenta maior incidência.
Quando um funcionário lhe dizia que chegaria atrasado, pois tinha algumas questões para resolver fora da empresa, ele simplesmente respondia: - Se vai atrasar, não precisa vir!

A regra se estabeleceu, as pessoas se ausentam e depois comunicam.  Mesmo os novatos, assim que chegam, são orientados quanto à cultura pelos colegas.
Teodoro, líder de uma das turmas, gosta de “tirar o máximo que pode do dia”. O ritmo de trabalho em seu setor, quando chegou, era alucinante. Não durou muito a proeza. É ali, justamente, onde a quantidade de afastamentos e ausências de trabalhadores se mostra preocupante.

O trabalho pesado e repetitivo têm provocado baixas e Teodoro não se mostra sensível para analisar o fato com seus colegas de recursos humanos.
Pedro, supervisor da área ao lado, não. É camarada e compreensivo. Mantém as portas abertas e diálogo franco, mas vive um dilema.

Na equipe se deparou com dois colaboradores com perfis diferentes, competentes, mas que lhe provocam a sensação de excesso e falta de comprometimento, como dizia a Joel, o gerente de recursos humanos.
Um deles, Benê, vive às turras com a esposa, que o quer por perto sempre que leva Pedrinho, o pequeno filho, ao pediatra.

Sua presença nas festinhas da escola do rebento é mais um motivo para os desentendimentos, entre outras. A situação é pública, gerando algumas observações dos colegas: “antes de pedir à Benê que faça algo é melhor perguntar se ele virá!”.
Bill já tem outro comportamento. Dia desses a “menina do meio“ sofreu um pequeno acidente e passou por uma rápida cirurgia. Preocupado e zeloso, esteve ao lado da esposa no hospital.  Terminado o procedimento e tranquilizado pelo médico, que lhe explicara que nada grave havia ocorrido, acertou com a esposa que iria para a empresa e no fim do expediente voltaria.

Os amigos, inconformados, lhe diziam: - Bill, o que você está fazendo aqui, filha está hospitalizada?
Bill, com toda paciência do mundo, procurava acalmar a todos explicando que fora mais o susto e que, com seis filhos, se cada vez que um ficasse doente ele se ausentasse, jamais trabalharia.

Absenteísmo, mais do que a pura ausência do trabalhador, costuma estar ligado à falta de entendimento de questões importantes que precisam ser gerenciadas.
Ouvir todos os envolvidos permitirá o esclarecimento do problema, pois para essa complexa questão, que tanto desconforto gera, há um ditado popular bem adequado: “Toda panqueca, por mais fina que seja sempre tem dois lados”.

Por essa razão, esteja atento, absenteísmo é apenas aponta do iceberg. Para conhecê-lo, a única forma é mergulhar em águas frias.

Ivan Postigo é Diretor de Gestão Empresarial da Postigo Consultoria Comunicação e Gestão
www.postigoconsultoria.com.br








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