terça-feira, 15 de novembro de 2011

HONESTIDADE - QUALIDADE OU OBRIGAÇÃO

Por Ivan Postigo


Todas as empresas de uma forma ou outra tem critérios formais ou informais para avaliação periódica de seus funcionários. Não é difícil encontrar uma pessoa que não tenha vivenciado a implantação de um programa de avaliação de desempenho.

Um determinado dia, em que debatíamos quais critérios seriam usados no programa periódico de avaliação, alguém sugeriu que colocássemos a honestidade como um dos itens de qualidade pessoal.

Sem aparente razão, fez-se um longo silêncio na sala e nem mesmo o questionamento do facilitador da reunião provocou qualquer reação imediata.

Passado o momento de reflexão, um dos integrantes do grupo de avaliação de critérios fez a seguinte pergunta:
Vocês colocariam suas contas bancárias sob a administração de uma pessoa que fosse 99% honesto? A rejeição foi imediata.

Logo em seguida veio outra pergunta: - Como avaliar a honestidade?

Imediatamente um dos integrantes do debate respondeu: - Honestidade não se mede por graus. Uma pessoa é honesta ou não é.

Em seguida veio a pergunta fatal: - O que é ser honesto?

Essa pergunta desencadeou um grande debate, com todos tentando falar ao mesmo tempo, fazendo perguntas em busca de respostas.

Como se conceitua a honestidade?

Imediatamente surgiu um dicionário e foram lidos os sinônimos de honestidade: integridade, inteireza, justiça, probidade, retidão, honradez, dignidade.

Seriam estes sinônimos suficientes para nos dar uma visão completa e ou conceituar honestidade?

Estaria a honestidade ligada a conceitos e valores culturais?

Honestidade está relacionada a valores estabelecidos por comunidades em determinadas épocas, e são mutáveis?

Os avanços tecnológicos e dos costumes podem ter efeitos nos conceitos que determinam o que é ser ou não honesto?

Honestidade é algo ligado ao caráter de cada pessoa ou é algo que se aprende?

O que seria necessário para um treinamento de honestidade e quem poderia ministrar as aulas?

Novo silêncio reinou na sala, quando um engraçadinho fez a seguinte pergunta: - Quem se candidata a professor de honestidade?

Silêncio por constrangimento? Não, simplesmente porque não parecia possível determinar com exatidão o que é honestidade.

O debate seguiu, abordando desde objetos encontrados e perdidos no banco da praça ao estabelecimento de lucros pelas empresas.

Uma caneta encontrada num banco de praça deveria ou poderia ser usada por quem a encontrou ou isso seria desonestidade?

Um empreendimento voltado à assistência à comunidade, com objetivo apenas de ajudar as pessoas, deveria ou poderia ter lucro nas suas operações?

Em um debate como esse não faltam opiniões, exemplos, recomendações, a dificuldade é o consenso, dizia um dos integrantes.

Para piorar a situação veio outra pergunta: - Honestidade é algo que demanda consenso?

Por falta deste, alguns queriam debater mais, outros queriam deixar a questão para uma próxima reunião, outros não aceitavam as divergências de opiniões e queriam tirar o quesito da avaliação.

No momento em que o país passa por ondas de denúncias, debater o que é honestidade pode não resolver nossos problemas, mas certamente coloca um pouco de luz nos nossos valores pessoais e estabelece alguns limites para conduta.

Talvez nas próximas eleições todos nós nos motivemos a refletir um pouco mais sobre as pessoas que colocaremos para cuidar da nossa conta bancária, fruto da arrecadação dos impostos. Sim, essa conta bancaria é nossa. Não duvide nunca disso. Dinheiro nosso com um único objetivo: “Bem estar coletivo, ainda que assim não seja usado”.


Ivan Postigo é Diretor de Gestão Empresarial da Postigo Consultoria Comunicação e Gestão
Twitter: @ivanpostigo
Skype: Ivan.postigo






Um comentário:

  1. Deveria ser é OBRIGAÇÃO, mas não tapemos o sol com peneira.

    Na Gestão Pública a honestidade pode ser medida em paralelo com a transparência e publicidade dos atos administrativos, tanto dos agentes políticos(eleitos e comissionados), quanto dos demais agentes públicos(servidores).

    Já na Gestão Empresarial vejo que medir a honestidade é complicado, talves criar uma ferramenta para medir a confiabilidade das pessoas seria mais interessante.

    alexandrecurriel.blogspot.com

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