Por Betania Tanure
60% dos líderes de nossas empresas dominam o lado
“hard” da gestão; os estadistas de que tanto precisamos são menos de 7%.
O Brasil clama pela presença de estadistas na política,
nas organizações não governamentais, nas empresas. Por que será?
Identificamos no estadista as competências fundamentais e
urgentes para nós hoje, entre as quais a de “enxergar além” e também coragem
para tomar decisões duras e até impopulares e de buscar o bem comum no curto,
médio e longo prazo, mesmo que em detrimento de interesses individuais.
Na empresa, o estadista é o dirigente capaz de temperar
os papéis de gestor e de líder de acordo com as necessidades do momento,
integrando-os à visão de futuro, e ainda é aquele que, por meio do poder da
empresa, contribui para a construção de uma sociedade e um país melhores.
Parece que estou falando de Marte?
A situação atual em muitas empresas é de entorpecimento.
Estamos um tanto distantes de ter, em boa parte delas, verdadeiros estadistas.
O que você acharia, francamente, de um presidente afirmar
que apenas pequena parcela dos executivos de sua equipe tem o perfil desejado,
que mais da metade de sua liderança não consegue mobilizar as pessoas e que
parte significativa de seus subordinados diretos está apenas parcialmente
comprometida? Pois essa é a opinião de 250 executivos do topo de empresas que
estão entre as 500 melhores e maiores do Brasil. Os percentuais são alarmantes:
18%, 58% e 41%, respectivamente.
E tenho de revelar: a maioria dos presidentes expõe essa
situação mais calmamente do que deveria. É como se o problema não fosse deles.
De quem é o problema então? Não são eles os chefes dessa turma?
O fato é que predominam em nossos cargos executivos os
“gerentões” e as “gerentonas”, pessoas em posição formal na hierarquia e com
foco na articulação e viabilização dos componentes “hard” da gestão, muito
racionais. O lado “soft” fica em segundo plano. Sim, isso se aplica a 68% dos
executivos. Pergunto: que liderança é essa?
Nossa carência de indivíduos que saibam combinar as duas
dimensões é quase endêmica: eles são apenas 7%. E a proporção de estadistas
mostra-se ainda menor.
A responsabilidade não é só das pessoas. Estruturas de
poder arcaicas, foco em resultados de curto prazo, metas conflitantes,
contraposição entre interesses individuais e coletivos, modelagem da
remuneração e tremenda dificuldade de implantar uma cultura meritocrática são
alguns exemplos práticos de situações que levam à liderança deficiente.
Se você identifica algumas dessas situações em sua
empresa, está na hora de agir. A obtenção de resultados empresariais
extraordinários depende fortemente de bons líderes. Esse estado das lideranças
é entrave ao desempenho organizacional bem maior do que se imagina além de
distanciar cada vez mais as empresas de sua contribuição à sociedade. Imagine
se falarmos da estrutura política?
Bons exemplos existem para provar que é possível ser
estadista em uma empresa brasileira, empreendendo e tendo sucesso com ética.
Tais histórias serão contadas nesta coluna nas próximas edições.
Por ora, vale lembrar uma conhecida frase de Charles de
Gaulle: “A ambição individual é uma paixão infantil”.
“RESULTADOS EXTRAORDINÁRIOS DEPENDEM DE BONS LÍDERES”
Betania Tanure é professora da PUC Minas Gerais e do
Insead da França, consultora da Betania Tanure Associados e consultora de
Estratégia e Gestão Empresarial com Sumantra Goshal entre outros.
Artigo publicado na Revista HSM Management, nº 103,
maio/junho de 2014. Coluna da Betania Tanure.
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