Por
Pedro Luiz Passos
A
gestão pública e privada é o que dá vida às inovações tecnológicas,
viabilizando o crescimento e o bem-estar.
Com o país entretido entre Copa do Mundo, campanha
eleitoral, incertezas da economia e baixo astral de noticiário, dá para
entender a pouca atenção despertada por sinais de profundas transformações no
mundo corporativo.
Elas dizem respeito ao papel crucial que a gestão
empresarial desempenha não só na condução dos negócios, como na economia de
modo geral. Sem criar modelos administrativos adequados, novas tecnologias não
percorrem o caminho que separa uma boa ideia de um empreendimento de sucesso.
Mais: a ausência de boas práticas gerenciais impede que avanços no cenário
macroeconômico se transformem em ganhos de produtividade e expansão da
atividade empresarial.
Enfim, tanto as conquistas tecnológicas como as melhorias
macroeconômicas não vivem sem a excelência dos processos administrativos e, pior,
se não houver elo que os una, eles se anulam mutuamente. Ainda sem ressonância
no Brasil, o debate já se desenrola em outros países. Nos últimos anos falou-se
na “grande estagnação”, como Tyler Cowen, professor da Universidade George
Mason, dos EUA, titulou seu livro sobre o cenário econômico depois de 2008 – ou
“estagnação secular”, como prefere o economista Paul Krugman.
Agora, em contrapartida, começa a surgir o que vem sendo
chamada de a “grande transformação”. A transformação seria o resultado não só
da inovação tecnológica, diz um dos seus teóricos, o presidente do Peter
Drucker Society Europe, Richard Straub, mas, sobretudo, de avanços nos modelos
de negócios, na gerencia das empresas e na gestão de governos. Ela se
manifesta, em especial, no uso maciço de ferramentas digitais nas cadeias
produtivas.
Essa evolução gerencial desponta como solução contra a
estagnação das economias avançadas e pode se tornar um diferencial positivo
para as emergentes. As bases para esse salto já existem, pois há inovação
tecnológica suficiente para criar demandas de consumo e, portanto, desentocar o
investimento empresarial.
A banda larga, por exemplo, viabilizou uma miríade de
aplicativos para smartphones. Da mesma forma, o armazenamento remoto, ou
“computação nas nuvens”, de quantidades gigantescas de informação sobre tudo e
sobre todos – o que cria condições para outras inovações sejam de produtos,
sejam de serviços. A maioria dessas tecnologias, a rigor, estava disponível há
pelo menos uma década. Faltavam processos gerenciais e novos modelos de
negócios para trazê-las ao mercado. Dessa forma, a administração desempenha na
economia um papel semelhante à ação evolutiva das tecnologias de rupturas. A
ideia central é a seguinte. A macroeconomia tem papel fundamental no
crescimento. Por sua vez, as novas tecnologias permitem os avanços que moldam
as relações econômicas e sociais. Mas é a administração tanto privada como
pública que implanta as inovações e viabiliza a síntese entre crescimento
econômico, resultado empresarial e bem-estar da sociedade.
Enfim, sem a gestão, não há progresso e tudo mais não se
completa. “Se os gestores têm o poder de conduzir a economia para o buraco”,
escreveu Straub em artigo da Harvard Business Review, “também têm poder de
leva-la para frente”. Por isso, ideias e modelos que destravem o crescimento e
elevem a qualidade do setor público são relevantes. Nos EUA, eles podem ajudar
a acelerar a lenta recuperação econômica, assim como na Europa têm o potencial
de contribuir para romper a estagnação da atividade industrial. Já na China
ajudariam a dinamizar o crescimento pelo mercado interno. Tal agenda também é
nossa, embora ignorada pela maioria dos protagonistas nos debates nacionais.
Temos a vantagem de depender mais de nossos talentos gerenciais, que estão, em
geral, em linha com o praticado nas grandes praças – basta ver o número de
executivos brasileiros em postos de destaque em corporações internacionais.
Essa agenda também demanda mais tecnologias de processos, em que não fazemos
feio, que inovações na fronteira tecnológica, em que mal começamos a engatinhar.
Obviamente, a consistência da macroeconomia é imprescindível para a sociedade
realizar seus anseios. Sem ela, nem dará para cogitar as transformações que
começam a moldar não só a economia, mas tudo o que a permeia, inclusive a noção
de subdesenvolvimento.
Pedro Luiz Passos é Presidente do Iedi – Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial, e conselheiro da Natura.
Artigo
publicado no jornal A Tarde (Salvador-Bahia) de 20/06/2014.
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