Por
Betania Tanure
Pesquisa
mostra que empresários preveem reduzir investimentos e até pessoas, sem boas
expectativas para 2015; essa é a “deixa” para mudar.
Em uma empresa a mudança ocorre por três causas-chave: fusões
e aquisições, a troca do principal dirigente e a crise. Para efeito desta
análise, quero me deter um pouco no conceito de crise.
Ela deve ser qualificada de duas formas. A primeira, mais
comum, é a econômico-financeira, contexto em que se torna objetiva e, para a
maioria das pessoas, visível. Os indicadores apresentados na “última linha” são
claros e inequívocos. Ou muda ou morre. Ou muda ou é vendida, mesmo que perca
valor.
A ação da direção é decisiva na recuperação, ou morte, da
empresa. Lucidez de raciocínio, coragem de admitir a situação e os próprios
erros, de fazer diferente, de mobilizar as pessoas são pré-requisitos para o
sucesso dessa ação. Outros indicadores também devem ser analisados: a empresa
cresce consistentemente? Ganha ou perde market
share? É objeto de desejo de executivos não apenas em razão do poder do
cargo mas pelo propósito que tem? As pessoas se orgulham de trabalhar nela?
Há ainda uma segunda forma de crise que diz respeito ao
potencial de desempenho da empresa e sua sustentabilidade. Os números ainda são
sadios, porém ou não indicam que o sucesso terá vida longa, ou revelam que não
se está explorando o potencial positivo apresentado pelo negócio.
Nessa situação, a maioria dos executivos não vê motivo
para implantar mudanças e, sem a visão de um verdadeiro dirigente, que saiba
combinar as capacidades do gestor com as do líder, as mudanças não ocorrerão
mesmo.
Em qualquer uma dessas duas crises, o propósito de
mudança tem de ser muito claro e beneficiar todos os envolvidos, não apenas os
que estão no poder. Mais: ambos os casos exigem vontade, coragem e disciplina
para mudar e para criar uma estrutura que dê suporte à transformação doa
ambiente organizacional.
Agora, vamos aos dados. Em pesquisa que fiz após as
eleições do segundo turno em 2014, 47% dos executivos em posição de presidência
e conselho afirmaram que diminuirão a o atual nível de investimentos; 3%, que
vão aumenta-lo e 50%, que vão mantê-lo. Quanto ao quadro de pessoal, 45%
previram redução; 10%, aumento e 45% pretendiam preservar o atual. Por fim, 77%
projetaram desempenho mediano da empresa.
Com base no que foi apresentado, faço duas provocações. A
primeira é para você, empresário. Não se conforme com o desempenho mediano.
Analise bem se não é hora de, corajosamente, orquestrar um processo de
transformação e mudar sua empresa, influenciando proativamente seu cenário. Em
tempos difíceis, só os melhores têm desempenho excepcional. Você está entre
eles? Se não está, sugiro que busque estar.
A outra provocação é para nossos governantes. Se os
empresários enxergam o cenário aqui descrito, a hora não é de mudar o ambiente
de negócios para que seja mais atrativo? Não adianta apenas discordar dos dados
ou “matar a mensageira”. As pessoas agem de acordo com suas percepções, mesmo
que outras discordem delas.
Mudanças, seja na empresa, seja no Brasil, são as
condições para que todos os brasileiros, independentemente de convicções
político-partidárias, desejam: um país melhor e mais justo. No entanto, elas
demandam energia de nós.
Betania Tanure é professora da PUC Minas Gerais e do
Insead, da França, consultora da Betania Tanure Associados e coautora de
Estratégia e Gestão Empresarial com Sumantra Ghoshal, entre outros.
Publicado na revista HSM Management, edição nº 108 – jan/fev
de 2015.