Por Ivan Postigo
Essa é uma questão importante, mas ainda não ganhou o destaque necessário.
O período em que a economia permaneceu recessiva levou muitos profissionais experientes a darem outros rumos a seus planos de vida. Aposentaram, deixaram o país, abriram alguns negócios próprios, tornaram-se profissionais liberais, enfim, afastaram-se de suas atividades como colaboradores – funcionários- nas empresas. Momentos recessivos demandam ajustes, e assim se fez. Ainda que a organização se ressentisse do fato, os gestores no comando procuraram conviver com os efeitos dessas perdas.
O mercado voltando a aquecer, num primeiro momento, a geração de fluxos de caixa com interessantes superávits e balanços com lucros substanciosos, também mascaram algumas necessidades. Estas começam a dar sinais quando a pressão por melhor desempenho, agilidade de atendimento, investimentos e outras medidas estratégicas ocupam as mesas e telefones dos diretivos. Assoberbados, percebem que o alicerce é frágil. As respostas e apoios carecem de maior experiência e a delegação já não se mostra tão simples.
É verdade que maltratamos o conhecimento e o negligenciamos quando farto e ao alcance das mãos, mostrando pouca atenção e interesse aos mais sábios. Mas a realidade tem cara feia quando se mostra em situações de carência. Todos nós precisamos de mentores. Felizmente, essa lição aprendi muito cedo e pude não só ser “adotado” por alguns, como outros eu “adotei”. Foram eles que me permitiram atuar em todas as áreas das empresas e realizar trabalhos em todos os seus setores. Não me lembro de um trabalho que não tenha feito na área industrial, administrativa, financeira ou mercadológica. Nas empresas em que atuei como colaborador, sempre estive envolvido em trabalhos de reestruturação. Por que sabia tudo e estudava muito? Estudava sim, fazia muitos cursos, mas às vezes o que precisamos não é “uma mala” de conhecimentos, mas “boas dicas” e algumas orientações. Conhecimento só tem serventia quando sabemos como aplicá-lo!
Em alguns projetos eu entrei “zerado”. Não tinha a menor idéia do que se tratava e como conduzi-lo. Quando terminávamos, eu sabia mais do que o maior especialista do grupo. Onde estava o segredo? Tinha aprendido toda base teórica, como ele, contudo desenvolvera a competência para analisar e tomar decisões. A grande “sacada” foi que meus mentores perceberam que poderiam fazer com eu desenvolvesse a percepção e me adiantasse a determinadas situações. Um deles sempre brincou dizendo que seu maior mérito era ter feito com que eu eliminasse a opacidade da minha bola cristal. Aquela que todos temos, mas pouco a consultamos. Lá dentro está a experiência acumulada e o instinto apurado!
Como colaborador de uma empresa, no comando de uma equipe, sempre procurei tornar seus membros multifuncionais. A qualificação da equipe me levou a perder pessoas importantes, afinal todos nós queremos crescer profissionalmente. Quando a oportunidade procurada não estava dentro da empresa, estava fora, e assim partiam. Mas, deixavam uma herança fantástica. Não só pelo que realizaram, mas pelo que me ajudaram a formar.
Vejo pessoas sendo preparadas para entender como se faz a introdução de dados nos programas de gestão e como os relatórios são emitidos, com total desatenção a análise. Passam da fase operacional para a gerencial totalmente fragilizados. A carga da análise acaba recaindo sobre os profissionais diretivos que deveriam estar pensando no futuro da organização.
Poderíamos questionar: Como estes lidam com esta situação?
Vou usar a resposta que ouvi muitas vezes: Normal! É verdade, o vício ou o fato virou cultura. O problema é que essa geração, orientada dessa forma, está chegando aos cargos diretivos.
Já sentimos substancial falta de qualificação operacional em todos os cantos, questão que poderia, em parte, ter sido equacionada com um gerenciamento adequado em muitas empresas. Afinal preparar substitutos- backups – e colaboradores polivalentes são tarefas gerenciais. A preparação de colaboradores multiplicadores é fundamental para qualquer organização que efetivamente desenvolva planos de carreira.
Sem ter quem forme nossos gerentes, quando nos dermos conta, não teremos tempo para reagir, e o apagão gerencial estará acontecendo.
Ivan Postigo é Diretor de Gestão Empresarial da Postigo Consultoria Comunicação e Gestão.
Plinio e Ivan
ResponderExcluirMe formei em Adm em 2007 e já discutiamos esse apagão naquele momento.
Em um debate em sala de aula todos concordamos que um dos fatores desse apagão era a migração de pessoas para a estabilidade do setor público que vinha em crescimento acelerado e oferecendo bons salários.
Qual a opinião de vocês para esse fato?