segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

MAQUIAVEL E A GESTÃO EMPRESARIAL - UMA ABORDAGEM

Por Plínio José Figueiredo Ferreira

Atribui-se a Nicolau Maquiavel a criação do maquiavelismo. Permitam-me discordar. Maquiavel foi um observador do comportamento humano, e, sem dúvida, um renovador de costumes, um agente de mudanças.
Também é comum classificar de maquiavélico aquele que tem desvio de caráter, que passa por cima da ética, que “dá nó em pingo d’água”. Permitam-me discordar mais uma vez. Maquiavel foi um estrategista. Suas observações são atuais e podem ser aplicadas à gestão empresarial. Não como um manual e sim como princípios para reflexão. Assim, recomendo a todos os gerentes e gestores lerem O Príncipe. Sei que alguns já o leram. A estes sugiro uma nova leitura. Àqueles que ainda não tiveram o prazer de lê-lo, sugiro que o façam o mais breve possível. E a todos, recomendo que não o copiem. Interpretem suas sábias palavras e a transportem para o cotidiano pessoal ou corporativo.

Minha ideia não é comentar o livro, porque este texto ficaria muito extenso, e sim ver alguns highlights e a forma como os entendo. Não tenho a pretensão de interpretá-lo, apenas citá-lo e aprender mais um pouco sobre o comportamento humano, que continua o mesmo há mais de seis séculos (na verdade há mais de milhão de anos). Faço analogias com o que foi escrito no final do século XV, uma época de forte transição, e o que vejo hoje no início do século XXI, um período de mundialização de práticas e costumes. Comparo as observações de Maquiavel com a postura de gestores, sejam eles chamados de líderes, gerentes, coordenadores, governantes e outros títulos que se possa atribuir àqueles que interagem com pessoas.

Logo no início do livro, a carta que Maquiavel fez ao Magnífico Lourenço de Médici começa: “Aqueles que desejam conquistar a graça de um príncipe costumam obsequiá-lo o mais das vezes com o que possuem de mais valioso ou que possa deleitá-lo de modo especial; por isso os príncipes são freqüentemente presenteados com cavalos, armas, tecidos de ouro, pedras preciosas e ornamentos desse gênero, todos dignos de sua grandeza”.
Estes tipos de “agrados” continuam comuns na política, na administração pública e na administração de empresas, salvo em raríssimas e honrosas exceções, de acordo com a grandeza da falta cometida e do prejuízo causado á sociedade e à natureza.
Mais adiante, na mesma carta: “...assim como os desenhistas de paisagem se põem num nível baixo  a fim de discernir a natureza dos montes e dos lugares altos, e no topo dos montes para observar as zonas baixas, do mesmo modo, para bem conhecer a natureza dos povos, é preciso ser príncipe, e, para bem conhecer bem a dos príncipes, é necessário pertencer ao povo”.
Na verdade, acontece que os atuais governantes não olham para as zonas baixas e ignoram a natureza e as necessidades do povo. O povo conhece bem a natureza daqueles que elegem, embora ignore também, normal e/ou naturalmente - “porque o homem que quiser ser bom em todos os aspectos terminará arruinado entre tantos que não são bons”.

No capítulo – Da crueldade e da piedade; e se é melhor ser amado que temido, ele diz: “Portanto um príncipe não deve preocupar-se com a má fama de cruel se quiser manter seus súditos unidos e fiéis, pois com pouquíssimos atos exemplares ele se mostrará mais piedoso que aqueles que, por excesso de piedade, permitem uma série de desordens seguidas de assassínios e de roubos: estes costumam prejudicar a todos, ao passo que aqueles ordenados pelo príncipe, só atingem pessoas isoladas”.
“...se é melhor ser amado ou temido, pode-se responder que todos gostariam de ser ambas as coisas; porém, como é difícil conciliá-las, é bem mais seguro ser temido que amado, caso venha a faltar uma das duas”.
“...se os homens amam de acordo com sua vontade e temem segundo a vontade do príncipe, um príncipe sábio deve assentar-se naquilo que é seu, e não no que de outrem, precisando apenas, como foi dito, encontrar meios de escapar ao ódio”.

Três exemplos reais do século XX:

  1. Uma pequena manufatura administrada pela sua proprietária era alvo de constantes boicotes, por parte do pessoal da produção, que redundava em devolução do produto e o conseqüente prejuízo, não somente financeiro como também de imagem. Os funcionários viviam em constante estado de tensão porque a “tirana” praticava, diária e indistintamente, o assédio moral entre os funcionários. Ela era temida, e as melhores horas do dia eram quando ela estava ausente da empresa;

  1. Em outra empresa, uma pesquisa de clima organizacional, encomendada pelo proprietário demonstrou que 90% dos funcionários o temiam. Resposta dele: Estou satisfeito, isto mesmo que eu quero!

3.    Em um grande Banco havia um chefe de departamento que tinha a preocupação de ser “amado” pelos subordinados. Ele tratava a todos igualmente, a avaliação de mérito era igual para todos. Era um pai, irmão, amigo, etc. Entretanto, premiava a todos indistintamente causando mal-estar entre aqueles que realmente trabalhavam.

Quais deles obtinham melhores resultados? Quais deles conseguiam que as coisas fossem feitas de forma eficiente e eficaz?

Em que pese à existência das modernas técnicas de gestão ainda encontramos, em pleno século XXI, feitores que, em nome de “resultados a qualquer preço” usam a chibata e o castigo psicológico.
De outro lado existem os gestores que, em nome daquelas modernas técnicas, portam-se como extremamente “democráticos” e são ineficientes e ineficazes.
Felizmente encontramos gestores que sabiamente utilizam a chibata e o “tapinha nas costas”, no momento oportuno, respeitando as diferenças individuais de cada colaborador.  

O importante não é ser temido ou ser amado, o importante é ser respeitado, ter credibilidade e passar confiança. Em uma organização, o gestor não é obrigado a amar seus colaboradores, e vice versa, mas deve haver respeito mútuo, convergência de objetivos e posturas éticas e responsáveis.

O chefe ditador quer ser obedecido e temido.
O gestor líder é respeitado e respeita. Realiza e realiza-se através da sua equipe formada por pessoas que realizam e realizam-se. E isto é gestão. Com muito “maquiavelismo”.


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