sexta-feira, 8 de abril de 2011

APRENDIZADO FRAGMENTADO E PENSAMENTO SISTÊMICO - CONSIDERAÇÕES

Por Plínio José Figueiredo Ferreira
Desde cedo aprendemos de forma analítica, fragmentada. Isto é, as coisas nos eram ensinadas, pelo menos aos da minha geração, separadas umas das outras sem que pudéssemos pensar na relação e/ou correlação entre elas.
A Matemática nada tinha a ver com o Português; a História na tinha a ver com a Geografia (cada povo tinha sua história e vivia na sua terra), a Física, a Química; o Direito, as Finanças, o Marketing, tudo em disciplinas separadas com professores diferentes. Cada um dava o seu recado da melhor forma. Fomos formados com o pensamento e a visão mecanicistas, de forma que qualquer análise era feita isolando as partes.
Ainda hoje, e como conseqüência, quando nos vemos diante de problemas e temos que tomar decisões, o fazemos de forma fragmentada, resolvendo ou tentando resolver, cada um de per si porque fomos treinados para separar as partes. Esta ótica faz com que o processo decisório seja lento e longo porque, estando fora de um contexto, as decisões são tomadas de forma isolada com uma tendência muito forte de não percebermos a realidade das causas que originaram o problema.

A história - Os cegos e o elefante – ilustra bem o aprendizado fragmentado:

Quatro cegos queriam conhecer um elefante. Chegando ao zoológico tiveram autorização para tocar no animal, pois só assim teriam idéia de como era o paquiderme.
- o primeiro tocou a perna do elefante e concluiu que ele era como uma árvore, com o tronco roliço e áspero;
- o segundo tocou a tromba e concluiu que ele era como uma corda grossa;
- o terceiro tocou a orelha e concluiu que ele era como um grande abano;
- o quarto cego tocou a presa do elefante e concluiu que ele era como uma espada pontiaguda.
Cada um teve a sua visão fragmentada. Por não poder enxergar o todo, só perceberam as partes isoladas e isoladamente.

O pensamento sistêmico é contextual, o que é o oposto do pensamento analítico. Analisar significa isolar alguma coisa para entendê-la. Ter pensamento sistêmico significa colocá-la no contexto de um todo mais amplo. A visão do todo, proporcionada pelo enfoque sistêmico, facilita a compreensão do universo, do ser humano e das organizações.

Com a idéia da “learning organizations”, Peter Senge provocou os Gestores a terem uma visão diferente no campo da administração, principalmente no processo de tomada de decisão, quando traz a interpretação que as organizações devem ser percebidas como sistemas vivos, como um conjunto interativo de pessoas, um conjunto integrado e interdependente de unidades, e, portanto o enfoque deve ser sistêmico, processual, global.

As Cinco Disciplinas, do Peter Senge, são: Domínio Pessoal, Modelos Mentais, Visão Compartilhada, Aprendizado em Equipe, e Visão Sistêmica. Sem a visão sistêmica é impossível analisar a inter-relação entre as outras disciplinas.
Entretanto, estamos acostumados, ou fomos “educados” para acatar ordens, sem questioná-las ou colocá-las numa matriz sistêmica, contextual e corporativa. Somos dominados pelos nossos modelos mentais, não trabalhamos em equipe, não compartilhamos nossos conhecimentos. Somos incapazes de nos vermos como seres sistêmicos.
O grande problema que enfrentamos é o que diz respeito à percepção e à compreensão da realidade. Problema maior é definirmos esta realidade porque envolve a necessidade de mudança de paradigma. E a mudança de paradigma envolve mudança de valores.

Fritjof Capra, em seu livro A Teia da Vida – “The web of Life” identifica critérios-chave do pensamento sistêmico.
O primeiro critério, e o mais geral, é a mudança das partes para o todo. Os sistemas vivos são totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas às partes menores.
O segundo é sua capacidade de deslocar a própria atenção de um lado para outro entre níveis sistêmicos. Entretanto, não devemos deixar de reconhecer que, em geral, diferentes níveis sistêmicos representam níveis de diferente complexidade.
O terceiro é que a percepção do mundo vivo, como uma rede de relações, tornou o pensar em termos de redes.

Ter pensamento e visão sistêmica é pensar em ecossistema; é pensar de forma integrada; é pensar na relação de causa e efeito. Para tanto, precisamos mudar nossos modelos mentais. E isso só se dá através da vontade. A vontade de mudar traz a evolução ou a revolução. O importante é que faça a mudança.


Plínio José Figueiredo Ferreira é Administrador pela EA-UFBA e Pós-Graduado pela FGV-EAESP. Vivência como Executivo de Empresas Privadas e Públicas. Vivência como Consultor em Administração Estratégica. Professor Universitário até 2006. Professor em cursos de Educação Continuada e Extensão Universitária. Autor de artigos sobre Gestão Estratégica e Empreendedorismo. Membro do Corpo de Especialistas (árbitros) da Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem da Associação Comercial da Bahia.




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