segunda-feira, 16 de maio de 2011

PORQUE AS ORGANIZAÇÕES (NÃO) PLANEJAM

Por Plínio José Figueiredo Ferreira

“Deve-se ter em mente que não há nada mais difícil de executar, nem de processo mais duvidoso, nem mais perigoso de conduzir do que iniciar uma nova ordem das coisas”. NICOLAU MAQUIAVEL.

Em artigo anterior conceituei planejamento como sendo o processo de estabelecer premissas sobre eventos que poderão influenciar a organização; e também como o processo de definir cursos de ação para atingir as metas estabelecidas. Assim, planejar é o ato de estabelecer premissas para colocar as coisas em ordem ou estabelecer a ordem das coisas.
Parodiando Maquiavel, não há nada mais difícil de executar, nem processo mais difícil, nem mais perigoso do que conduzir, do que elaborar, do que implantar e do que acompanhar um planejamento, sobretudo um planejamento estratégico em uma organização.
Planejar é uma tarefa difícil que exige raciocínio, e um grau muito grande de abstração, porque diz respeito ao futuro da organização. Exige definições de como ela deverá chegar à posição almejada ou sonhada, como deverá administrar os fatores de risco e como tirar partido das vantagens previsíveis tornando-as competitivas. Isto requer muito trabalho, requer participação de todos (e nem todos querem participar), requer disciplina, requer dedicação e, acima de tudo, comprometimento. Haverá, seguramente, mudança no “status quo”. E toda mudança gera insegurança e reação contrária.
Muitas organizações não exercitam a atividade do planejamento porque pensam que ficarão engessadas, burocratizadas, sem qualquer margem de manobra, o que pode levar a perdas irreparáveis. Os executivos esquecem a máxima: todo planejamento é flexível. E todas as organizações devem ser flexíveis, e isso somente será conseguido através de um planejamento e do seu monitoramento sistemático.
Certa vez ouvi de um executivo que ele não planejava porque não tinha tempo a perder com isso. “O pessoal vai ficar inventando e esquecendo o principal, que é ganhar dinheiro e pagar as contas. E o planejamento só iria atrapalhar”. Perguntei se ele usava agenda. Ele respondeu: “Claro, sem agenda meu dia seria um caos; minha secretária programa muito bem os meus horários e verifica se foi tudo cumprido direitinho”.
Ele planejava as atividades dele, mas tinha convicção de que para a organização não havia necessidade de planejar e acompanhar as ações. No mínimo incoerente, mas uma realidade.

Algumas organizações preferem fingir que planejam quando elaboram um documento incapaz de levar a qualquer tipo de ação. Desenvolvem um “Plano Semântico” que se caracteriza pela “maratona intelectual” sem qualquer conteúdo real. Outras criam um plano para criar a ilusão de que o que se está fazendo é o correto. Estes planos jamais serão lidos, discutidos, implantados, monitorados e ajustados.

Planejar traz muitas vantagens. Cito apenas três delas.
A primeira vantagem que o planejamento oferece, quando da sua elaboração, é fazer com que as pessoas conversem, negociem, escutem as dificuldades dos outros e se proponham a enxergar a organização como um todo, além das fronteiras das suas áreas, dos seus feudos.
A segunda vantagem que o planejamento oferece é a visão de processos. Muitos ainda acham que isto acaba com a estrutura hierárquica e traz perda de poder. É preciso entender que os processos são interdepartamentais e transcendem a estrutura hierárquica, seja de que tipo for.
A terceira vantagem que o planejamento oferece é que existindo alguma coisa escrita, como uma “carta de bordo”, elaborada por todos, serve para determinar o rumo em direção ao lugar a que se pretende chegar.
Seguramente, as organizações que planejam têm vantagens competitivas superiores às que não o fazem porque têm identificadas suas capacidades e competências, seus pontos fortes e seus pontos fracos. Assim podem aproveitar as oportunidades que o mercado oferece.  
As organizações que não planejam suas ações priorizam o operacional, decidem por impulso, decidem por fuga, trabalham “no susto” do cotidiano, gastam muita energia em resolver o urgente porque o importante é sempre postergado.  Aí, tardiamente constatam que o risco aumentou e o custo da decisão se tornou estratosférico.
Mas fazer o que, não é? Agora já foi!


Plínio José Figueiredo Ferreira é Administrador pela EA-UFBA e Pós-Graduado pela FGV-EAESP. Vivência como Executivo de Empresas Privadas e Públicas. Vivência como Consultor em Administração Estratégica. Sócio-Diretor e Consultor da Habilitas Consultoria em Gestão Empresarial. Professor Universitário até 2006. Professor em cursos de Educação Continuada e Extensão Universitária. Autor de artigos sobre Gestão Estratégica e Empreendedorismo. Membro do Corpo de Especialistas (árbitros) da Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem da Associação Comercial da Bahia. Assessor de Planejamento da Fapex-Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão.

           

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